5.7.07

Pan-Pan-Pan...

Tenho, é sabido, enorme, monumental dificuldade em compreender eventos públicos de longa duração que mobilizem de tal maneira uma cidade sem, contudo, legar-lhe avanços d´impacto urbano, ressalvo, positivos. É o caso deste Pan do Rio.

Apesar do belo Engenhão, do moderno Maracãnazinho, do extraordinário complexo multi-esportivo erguido no autódromo, é infelizmente o caso deste Pan-americano do Rio de Janeiro, a cujo o principal estádio, o Olímpico, o supracitado Engenhão, vulgo João Havelange, alertam as autoridades, convém ir de trem, de trem!, com saída na Central do Brasil, leitor.

(E, sim, sim, estamos no século XXI). (Sim também, leitor, tem razão: eles nos prometeram metrô, bem como prometeram despoluir a Baía de Guanabara). (Mas agora, por quanto não cumpram com a palavra, querem restringir nossas possibilidades de locomoção afrontando o direito de ir-e-vir e a propriedade privada).

A propósito ainda do Estádio Olímpico João Havelange, o já popular Engenhão, quem o observar em perspectiva fantasiosa, considerando os arredores degradados e descurados do Engenho de Dentro, em dúvida poderá restar se não seria aquela arena moderníssima corpo extraterrestre acaso pousado em terra de anões ademais recém-saídos de custosa e dorida guerra - guerra perdida, vê-se.

Não estará muito longe da verdade quem, sem fantasia, considerá-lo simples e magnânima exibição de desigualdade sócio-econômica patrocinada pelo poder público.

A opulência qu´escarra sobre a miséria.

Quero retomar a questão central deste texto: do ponto de vista urbano, o que ficará para os habitantes do Rio de Janeiro? O que nos será legado que justifique, para além d´ambições (que sejam!) meramente políticas, a gastança de recursos públicos em obras colossais erguidas em paralelo ao galopante e acintoso déficit habitacional desta cidade favelizada?

Alguém falou em saneamento? Segurança pública de verdade, alguém?, sem maquiagem ou pacto de não-agressão durante os jogos, política pública na essência, ora, duradoura, planejada, com inteligência mais que helicópteros - alguém ouviu falar?

Burguês que sou, pergunto com preocupação imediata: e o trânsito?

Vejo faixas laranjas a demarcar supostas pistas de preferência ao deslocamento das autoridades e delegações pan-americanas - e pergunto: é sério? Devo respeitá-las? Devo me engarrafar - ainda mais - para que circulem livremente respeitáveis homens da estirpe, por exemplo, do alcaide Cesar Maia e do presidente boliviano Evo Morales, carioca da gema e irmão nosso de gás? É isso? Deverei, se acaso me ocorresse a insanidade, seguir ao estádio olímpico de trem para que outro trem, o da alegria pan-americana, transite sem retenções em carros oficiais e vans ar-condicionadas - deverei?

Para que não reste dúvida: eu não sou idiota.

O Pan - e não me venham falar de auto-estima, turismo e o cacete - será ruim para quem vive no Rio de Janeiro.

(Sobre as fotos, destaque para as três últimas, planos variados da estação do Engenho de Dentro, colada ao terreno do Engenhão).

5 comentários:

Anônimo disse...

Andreazza, eu não sei explicar exatamente o que percebo nesse evento, mas, sei lá, ainda não consegui me animar. A impressão que eu tenho é que tudo é de mentirinha, desproporcional. Porém, fico na torcida para que corra tudo bem.

C.A. disse...

Olga, acho que correrá tudo bem, sim. Torço para isso. Mas este teu sentimento de coisa desproporcional é meu também. O Pan passará e espero qu´a estrutura urbana da cidade ao menos não piore.

Julieta disse...

"Burguês que sou, pergunto com preocupação imediata: e o trânsito?"
Eu mal consigo dormir só de pensar...

(obrigada por ter me colocado aqui na prateleira!)

C.A. disse...

Julieta, serão dias de pesadelo... Mas conseguiremos, por fim, acordar.

Anônimo disse...

Bom pra caralho