19.7.07

Notas pan-americanas VII


Madureira chorou...

O Pan, repito, aprofunda as desigualdades - estas, já de hábito, grosseiras. Não faz semana, escrevi sobre o impacto do gigantesco e moderníssimo Engenhão, o Estádio Olímpico João Havelange, sobre os acanhados, pobres mesmo, arredores do Engenho de Dentro. Humilhante contraste...

Há bairros suburbanos, porém, que sequer foram bafejados de Pan-Americano. Esses, desde sempre abandonados pelo poder público, ora sentem o descaso olimpicamente se alargar.

A questão é evidente – e tomo Madureira por exemplo [fotos acima e abaixo], caso mais grave, a despeito do mesmo se dar, entre outros, em Cascadura, Vaz Lobo, Vicente de Carvalho, Rocha Miranda, Penha e Irajá: como pode a cidade receber esses jogos, com tantos e tão poderosos investimentos, se a pavimentação das vias públicas vai longamente deteriorada, se os equipamentos e o mobiliário urbano estão degradados, se os muros são pichações só, se as lojas fecham, se o comércio rareia, se a segurança pública não há, se as gentes preferem atravessar a linha férrea em vez de usar a passarela, infestada de pivetes – como?



Hieróglifo pan-americano

O trânsito, justiça seja feita, nem está dos piores. Mas se você, leitor, pretende acompanhar alguma competição do Pan e, por não conhecer o local da prova, depende da sinalização viária d´acesso aos estádios, prepare-se... Faltam placas d´indicação e os galhardetes instalados [foto abaixo] pela prefeitura – sempre ela –, além de visíveis apenas nas imediações das arenas esportivas, exigem talentos de decifrar códigos, ao menos para mim, impenetráveis.

Ou alguém sabe o que quer dizer DCM, CDE, DHQ, ROK, VLP, MPD etc.?



Uns com tantos, outros tantos sem nenhum...

Quem já foi num hospital público, os municipais sobretudo, Miguel Couto por exemplo, talvez se lembre duma folha de papel A-4, escrita a mão, fixada sempre na porta do ambulatório, onde se lê: “Não temos”... E, então, variará apenas o complemento: não temos otorrinolaringologistas ou ginecologistas ou ortopedistas ou todos ao mesmo tempo etc..

A falta é a regra. O comum.

À disposição dos atletas pan-americanos, porém, a Vila possui uma novíssima policlínica, de 500 m2, onde brilham cinco consultórios com, claro, clínicos gerais e ortopedistas, além de, que cousa!, otorrinos, ginecologistas e, luxo só, até dermatologistas, leitor.

O setor de emergência, com cinco leitos, tem respirador artificial – até agora, felizmente, não usado. Há ainda uma farmácia e um laboratório para análises clínicas – e isso sem falar, juro, nos especialistas em massoterapia, que não tenho idéia do que seja, mas que me parece recurso indispensável à boa saúde dos atletas.

Chega!

Chega!

Por favor, chega...



Engodo

O alcaide, oportunista de marca maior, nunca me decepciona. Agora, na aba d´alguns bons resultados pan-americanos, anuncia a criação, por decreto, do Bolsa-Pequim, programa que consistirá em apoio financeiro – de até catorze salários mínimos – para atletas cariocas ou residentes no município já com índices aferidos ou com boas chances de ir aos jogos olímpicos de 2008, na capital chinesa.

Se vier a sair mesmo do papel, do que se deve sempre desconfiar, pode até ser uma boa. Há, entretanto, na origem, equívoco conceitual grave, que pode e deve ser revisto, mas que, assim como está, reforça e valoriza aqueles que deveriam ser esvaziados, os dirigentes esportivos, uma vez qu´entrega às confederações o poder, digamos, subjetivo d´indicar os atletas a serem beneficiados.

Ou seja: a prefeitura - sempre ela - vem de criar mais um instrumento d´uso político.


Fogueira do descaso

A arena de beisebol, na famigerada Cidade do Rock, é uma vergonha. A maior deste Pan até aqui, sem dúvida. A iluminação precária, grande preocupação inicial, virou coisa pouca, quase nada, diante do placar eletrônico que jamais se acendeu, ou da falta de proteção ao público, tudo bem que, claro está, composto de loucos, mas que se podem agravar acaso sob efeito de violenta bolada.

Eu escreveria que a competição de beisebol destes jogos Pan-Americanos é programa de índio para atletas e torcedores não pudesse lançar mão desta foto acima, leitor, onde se vê, pasmem!, uma fogueira, cujo propósito, pasmem duplamente, é o de secar o campo...

Absolutamente indígena.

Ainda o beisebol

Sei que já exagero e que isso não tem importância alguma, que ninguém se interessa e tal – mas a final de beisebol foi adiada.

Tinha de o ser: é a rotina da coisa. Tenho, assim, portentosa dúvida de se houve alguma partida deste esporte que se deu no dia e no horário previamente estabelecido pelo CO-Rio... Sorte qu´é beisebol.


A maquiagem é cara, mas a aparência...

Jogavam ontem à noite, quarta-feira, as seleções femininas de vôlei de Cuba e do Peru – mas, quem se cravava mesmo, com força, no chão, era um reboco externo, grande, no espaço, não mais de trinta metros, entre o Maracanã e o Maracanãzinho, próximo à rubro-negra rampa do Bellini. A área foi isolada. E assim segue hoje, sem previsão de ser liberada.

Não houve feridos, embora borrada esteja a maquiagem vagabunda que o Governo do Estado fez no Complexo do Maracanã.


Spray de pimenta no olho cidadão

Grande parte dos problemas deste Pan tem origem na venda d´ingressos pela internet, este mico. O que se passou ontem no Maracanãzinho, por ocasião da semifinal do vôlei feminino entre Brasil e Eua, é simbólico.

Inicialmente marcada para as 19h e neste horário mantida durante o período de vendas internéticas, a partida foi, afinal, antecipada para as 15h. A troca fez com que cerca de duzentos torcedores, com ingressos comprados à mão, fossem barrados porquanto as entradas trouxessem estampado o horário inicial.

O impasse só terminou quando o CO-Rio autorizou o acesso dos torcedores, já com o jogo em andamento – e não sem que antes a despreparada Força Nacional de Segurança distribuísse fartos jatos de spray de pimenta para os cidadãos [foto acima] que se queriam tão-somente divertir, os trouxas, hahaha.

7 comentários:

Anônimo disse...

Me irrita quando dizem que o Maracanã está uma beleza. O Maracanã sofre uma maquiagem tão vagabunda, que sequer bonito ficou. Além disso, ele consegue não ser confortável nem nas cadeiras especiais.

Anônimo disse...

Ah, deixe o Diego em paz. Com duas medalhas de ouro, ele pode gritar: "Eu sou bi, eu sou bi".

Anônimo disse...

hahahaahhahahahaha.. Foca, você é muito bonzinho de achar que ele é "bi"campeão.

Ivan disse...

Diante do fiasco da Cidade do Rock, é bem capaz do César Maia ter a cara-de-pau de, em defesa do Rio-2016, dizer que o beisebol e o softbol foram excluídos dos Jogos Olímpicos a partir de 2012, não sendo necessário se preocupar com isso na futura candidatura da cidade.

C.A. disse...

O Focca é doente de maldade, Renata...

C.A. disse...

Ivan, você sabe qual é a última do prefeito? Introduzir a prática do badminton nas escolas municipais... Aguarde: escreverei sobre isso aqui amanhã.

Ivan disse...

Eu vi, C.A., eu vi... Não sei como ele tem coragem de divulgar essas coisas pelo ex-blog dele.

Enquanto isso, o trabalho do professor aposentado Paulo Servo, na escola municipal Silveira Sampaio, que revelou, entre outros, a campeã juvenil mundial Bárbara Leôncio, continua sem qualquer tipo de apoio municipal. E falta vergonha ao prefeito quando ele enche a boca para falar que Bárbara é ex-aluna do município, como se nisso houvesse alguma parcela de seu sucesso.