30.7.07

Notas pan-americanas - fim














Pingos nos is

Se o país, de fato, evolui esportivamente desde os jogos de Winnipeg, é preciso relativizar o peso desta evolução em termos olímpicos: gramas de acréscimo – e talvez mais gordura que massa muscular.

A vitória de Flavio Saretta é mui simbólica do juízo esportivo que faço deste recém-finado Pan. Melhor tenista do Brasil e campeão pan-americano, ele é hoje, porém, o centésimo trigésimo oitavo no ranking mundial.

Ridículo

Causou-me engulhos esta disputa com Cuba pela segunda colocação no quadro de medalhas. Não obstante o fato de que, pra valer, em Pequim, dar-nos-ão uma surra, mesmo tendo população quarenta vezes menor, lembro que se trata de país miserável, onde vige ditadura, esta que faz do esporte instrumento de propaganda derradeiro para uma ilha onde todos gozam de plena saúde e sabem ler, embora ler – livremente – não possam.

Futuro

Ainda sobre a importância esportiva dos Jogos Pan-Americanos, talvez ela esteja na possibilidade de formar jovens atletas e lhes dar experiência – isso que fazem, muito bem, Canadá e EUA, tendo ao Rio enviado, quando não medíocres equipes B ou C, futurosos atletas juvenis, entre eles, decerto alguns destinados a figurar bem nas Olimpíadas de Pequim.


Nível internacional?

Acima, o novíssimo Estádio Olímpico João Havelange, construído - em pleno século XXI - por uma fortuna e vendido qual o que há de mais moderno no mundo, isto a despeito de, como o Parque Aquático Maria Lenk, inacreditavelmente sujeitar o desempenho dos atletas a toda sorte de variação climática.

Durante mesmo a competição de salto com vara masculino, no sábado último, ocorreu-me se a estrutura de lona bizarra que se montou para que protegidos restassem os equipamentos não seria tecnologia importada dum assentamento do Movimento Rural Sem Terra.

Segurança

O Pan acabou, como previsto, sem maiores transtornos de segurança pública, o que assevera a honradez dos bandidos, que cumpriram em silêncio o acordo de trégua proposto pelo Estado. Ontem, todavia, tiros já se ouviam na Rocinha. É a vida, ora, voltando ao normal. (Fiquemos tranqüilos, porém: o Presidente da República garantiu que 75% da segurança pan-americana será mantida na cidade)...

E o que nos fica afinal, cariocas?

É justa a pergunta. Do ponto de vista urbano, nada. (A Baía de Guanabara segue um lixo; a Lagoa, idem).

Os jogos legam-nos algumas construções de grandeza monumental, o Estádio Olímpico João Havelange por exemplo, o popular Engenhão, entretanto para o qual – se mais não digo – o poder público nos recomenda ir de trem, leitor, sobre aqueles mesmos trilhos traçados ainda quando uma monarquia aqui retumbava. (Poderemos nos locomover, em breve, também de bicicleta, se soubermos bem utilizar - e assim nele aprimorar a técnica de nossas pedaladas - o igualmente novíssimo velódromo do município, cujo piso é de pinho siberiano)...

Eu escreveria que muito me impressionei com a Arena Multiuso, erguida no terreno do autódromo. Com efeito, ginásio de nível internacional - o único. Mas tenho honesta vergonha de me encantar com obras assim. Elas aprofundam as desigualdades - ou as fazem apenas berrar - numa cidade cujo déficit habitacional cresce quinhentas mil moradias por ano.

E, agora sim, mais não escrevo.

11 comentários:

Ivan disse...

Andreazza, tenho a impressão de que estádios de atletismo não podem ser totalmente cobertos. Os das últimas olimpíadas não eram. A própria Federação Internacional de Atletismo trata diferentemente competições indoor e outdoor.

De qualquer forma, não há obra ruim que resista a uma chuva. Fui ao Engenhão no sábado e é inacreditável a incapacidade municipal de se fazer uma calçada plana ou com um sistema de escoamento inteligente. Em todas as calçadas em torno do estádio, áreas de acesso e rampas e corredores de circulação havia poças, lagos e rios.

A prefeitura se gaba de todos os assentos serem cobertos, mas eles se esqueceram de que freqüentemente a chuva ocorre junto com vento. Cadeiras encharcadas e espectadores sofrendo com a chuva foram comuns.

C.A. disse...

Ivan, pesquisei a este respeito e não encontrei nenhuma restrição a que sejam cobertos os estádios olímpicos, desde que com "vazamentos" [laterais, pelo que entendi] para circulação de ar.

Posso estar enganado - mas creio que se classifica indoor provas d´atletismo, claro, em pistas cobertas quando estas têm - de propósito - dimensões menores que o habitual. Existem competições paralelas indoor com, por exemplo, prova de 50m rasos - modalidade, é sabido, não-olímpica. Algo como o que se dá na natação, nas provas disputadas em piscinas de 25m etc.

De todo jeito, o Estádio Olímpico de Atenas é aberto porque nesta cidade jamais chove em julho. Ao contrário do Rio, né?

Anônimo disse...

Andreazza, apesar das divertidas citações a meu nome, não sou um defensor de Cuba pelo mesmo motivo que não defendo o regime de 64: nenhuma intenção vale uma ditadura. Mas essa história de que não se pode ler em Cuba, apesar de verdadeira, me leva a uma dúvida: onde se pode? Para que se possa ler, tem que se poder escrever. Há alguns anos trabalhando na imprensa, nunca conheci um lugar onde se pudesse escrever plenamente. Não vejo muita diferença da censura explícita para as "limitações editoriais" do Brasil, EUA, Europa...

Anônimo disse...

Outra coisa a respeito de Cuba: sou contra o regime, mas fico pensando qual seria a sua alternativa? Largar nas mãos do EUA e virar um Haiti?

Anônimo disse...

Andreazza, antes de mais nada, que saudade das notas. Foi sensacional! Sensacional mesmo! Sobre os Jogos, ainda que tenha muitas restrições ao poder público, incorrigível patriota que sou, não consigo não achar bonito que, durante estes dias, tenha visto uma multidão cantar o hino nacional 54 vezes. Alguma coisa boa há de sair disso.

Anônimo disse...

Sobre o legado do Pan, espero que mude a política para o esport. Vamos acabar com lei rouanet e fazer com que funcione uma só para o esporte. prefiro formar campeões, não filmes ruins do cacá diegues. de mais a mais, esportistas de comunidades carentes precisam mais do dinheiro público do que o guilherme fontes.

Anônimo disse...

A única coisa ruim de ter terminado o PAN é que vc não vai mais escrever essas colunas hilárias... tudo bem.. outras virão!
Beijoss

C.A. disse...

Quem sabe, né?, Focca, a população aprendeu o hino...

C.A. disse...

Rê, com certeza, outros "Pans" virão... Mas, admito, vou sentir saudade d´escrever essas notas também. Eu me diverti - você sabe.

Anônimo disse...

Bom, que se dane o Pan: Jônatas está de volta!

C.A. disse...

Jônatas, o Zidane rubro-negro!