26.7.07

Notas pan-americanas XII

Até a pé nós iremos, para o que der e vier...

A pé, leitor, pela linha do trem, com o Maracanã ao fundo, à direita – esta é a modalidade de transporte que o Pan lega ao Rio de Janeiro.


Autoritarismo gastronômico II

Não se sabe até quando – mas a 11ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio aceitou a liminar do Ministério Público Estadual e liberou o acesso d´alimentos outros que não aqueles oficial e exclusivamente vendidos [leia-se Bob´s e apenas Bob´s] nas arenas do Pan, desde que para consumo pessoal.

O Comitê Organizador desta vez não recorrerá. Que assim seja.

Deu aro

É sintomático que o basquete masculino brasileiro, sempre que evocado, remeta-nos à gloriosa final pan-americana de 1987, em Indianápolis, aquela em que Oscar e Marcel, secundados por um inspiradíssimo Israel, viraram jogo quase perdido contra os até então imbatíveis ianques. Faz isso, porém, vinte anos...

De lá pra cá, dirigido pelo supra-sumo da incompetência esportiva – que atende pela sigla CBB – e comandado, em quadra, por treinadores ultrapassados e assim acomodados, Helio Rubens, Ary Vidal e discípulos, os mesmos de há vinte anos, o basquete nacional encontrou por realidade, em sua estréia neste Pan, duríssima vitória sobre a inacreditável seleção das Ilhas Virgens.

Aos qu´alegarem que joga a seleção brasileira ora sem seus craques da NBA, lembro que o Brasil não disputa uma Olimpíada desde Atlanta, 1996, embora tenha contado com todos seus astros internacionais nos pré-olímpicos de Sidney e de Atenas.

Na América do Sul, onde sempre foi hegemônico, hoje o basquete brasileiro apanha de times B da Argentina, a despeito de ter vencido uma equipe portenha C na final pan-americana última, a de Santo Domingo, 2003.

A seleção brasileira masculina de basquete é, portanto, a atual detentora do título em disputa – e mais não pode almejar que, sob dorido esforço, mantê-lo.

Seria pouco, fosse nada.

Ainda o basquete

No Brasil, o surgimento de grandes atletas não resulta em estímulo para o crescimento do esporte – para a multiplicação de talentos. Não. Serve, isto sim, para perpetuação infinita de dirigentes esportivos – e só.

Veja, leitor, o caso do tênis. Faz dez anos que Gustavo Kuerten triunfou em Roland Garros – e o que a conquista individual de Guga, partida para tantas outras, legou ao tênis brasileiro senão saudade? Onde estão os jovens tenistas, os campeonatos nacionais d´alto nível? Onde?

Desperdício...

No basquete masculino, já era evidente antes, o mesmo se deu, com violência, a partir d´Atlanta – no rastro das vitórias de Oscar e Cia.. Veio o tombo. Quase um fim... Não será diferente entre as mulheres, infelizmente, porquanto ainda ecoem [e ecoarão por anos] os feitos de Hortência, Paula e, mais recentes, os de Janeth.

Os títulos, as medalhas qu´elas conquistaram tão-só alimentarão de sobrevida os dirigentes da CBB – para sacrifício exclusivo do basquete.

O heptatlo, segundo os tribuneiros







Jéssica Zelinka [acima], do Canadá, medalha de ouro, mesmo sentindo forte fisgada no músculo posterior da coxa esquerda durante a prova de 1500m, contusão por ocasião da qual nunca antes, no mundo todo!, um evento esportivo terá apresentado, ao mesmo tempo, tantos e tão solícitos massagistas.

(Recorde mundial, aliás o único, batido neste Pan do Rio).







A portenha Fernanda Lauro, acima, cujos resultados - ruins - não lhe fizeram justiça.














Thaissa Presty [acima], brasileira, respirando fundo, um pouco nervosa antes da prova...









Maureen Maggi [direita], à espera de suas medidas. (Que, mais tarde, resultariam em ouro - no que já se dava para apostar).










Lucimara Silvestre [à esquerda], do Brasil, bronze no heptatlo, embora especialistas vejam abundante potencial para dourado futuro.




O mistério das arquibancadas vazias


Faz tempo qu´insisto no inexplicável d´encontrar, dia após dia, prova após prova, arena após arena, quantidade monumental de lugares vazios nas arquibancadas, lá onde, por vezes, minoria é o público – e isto depois de terem celebrado os ingressos esgotados. (Todos)!

Mas: como assim esgotados? Todos? Quem são os tarados que compram entradas caras, disputadíssimas ademais, e simplesmente não vão aos estádios? (E nem se esforçam em revendê-los)?

Este argumento segundo o qual, do total de 1,7 milhão de ingressos [não numerados], trezentos mil foram distribuídos entre União, estado e município [mormente este último], e 30% entre patrocinadores, agências de turismo e confederações, é duma desfaçatez fabulosa, qual se não se tratassem de números absurdos – de configurar mesmo olímpico “trem da alegria” –, além d´explicar as [merecidas] vaias para o presidente da República e sobretudo a farra dos cambistas d´ocasião que, socialmente assistidos pela distribuição gratuita d´entradas [coisa de Cesar "O Generoso" Maia], vendem ingressos por preços [bem] menores que os cobrados, de origem, nas bilheterias, sem se incomodar acaso uns tantos sobrem.

Dane-se – dirão.


Sonhar não custa nada

Para Olga

O Maracanã recebe hoje a final do futebol feminino. É boa a seleção brasileira. Decerto uma entre as cinco forças do mundo, quiçá entre as três – coisa de se espantar acaso consideremos o abandono oficial sob o qual são [des]tratadas essas meninas. Do outro lado, com seu talentoso time sub-20 [composto d´atletas universitárias], os EUA – tradição pura, puríssima, no que se refere a futebol feminino.

Com perdão do maniqueísmo, insistirei nesta oposição. Peguemos as craques de cada seleção: Marta, goleadora do torneio e eleita, sem mais, a melhor do mundo, e Lauren Cheney, revelação ianque, vice-artilheira da competição e única entre as americanas a ter já defendido sua seleção principal.

Pois bem: Lauren, como supra-escrito, é universitária, assim porque, suponho, estuda, forma-se, prepara-se, em seu país natal, para um futuro além do esporte, com amplas possibilidades de igual sucesso. Marta, no entanto, tendo pouco estudado na infância-adolescência, ao mesmo tempo sem perspectivas d´êxito profissional no Brasil, tão-logo vencido o Pan de Santo Domingo, mudou-se para a Suécia, aos 17 anos, onde joga há quatro temporadas e junta dinheiro para um porvir ainda assim nebuloso fora do futebol.

Jovem ainda, Marta sonha com o dia em que poderá exercer sua carreira profissional no Brasil. Nunca, Marta – eu diria. E me ocorre se terá ela já procurado, neste campeonato brasileiro ora em curso, entre os atletas que o disputam, um rapaz – unzinho só – que lhe equivalha em talento, um craque que seja. Não o encontrará. [Obina, aviso, é hors-concours]. Estão todos na Europa, como ela. E por futuro, se lá já não estiverem, sonham com Milan, Real Madrid, Manchester, Barcelona etc., embora, acordados, prefiram jogar mil vezes na Turquia, na Ucrânia e até em Israel a trabalhar no Brasil.

Estão certos. Ou alguém dirá que não?















Propaganda do regime V


O Focca, fidélico inveterado, arrematou, por R$40 [sem pechincha], esta camisa de treino cubana [acima, à direita]. Os casacos oficiais, azuis, saem por R$100, embora os atletas insulares estejam abertos para negociar os preços e até aceitem escambo, como já aqui registrado. (Uma torcedora brasileira trocou, por exemplo, três vidros de esmalte por um boné de softbol cubano).

Apesar de não admitirem publicamente, como já fazem a respeito de qualquer outro escambo, os atletas de Cuba vendem e trocam até mesmo as medalhas pan-americanas conquistadas. À boca pequena, corre o boato de que Tiago Camilo, cuja medalha se quebrara, teria assim recuperado o seu ouro.

Mas decerto que se trata de maledicência.















Voluntários


Influenciados pelos atletas cubanos, os voluntários pan-americanos, explorados pelos organizadores [e alimentados com os mais infames pães com mortadela], invadiram a pista d´atletismo do Engenhão, organizaram suas próprias provas e já ameaçam pegar em armas e fazer a revolução.

Eles exigem presunto.

(O Focca nega qualquer participação no levante).













Mui amigas

Keila Costa e Maureen Maggi no pódio – elas se adoram...

Galã adormecido

O ator global Cauê Raymond, repousando...

Off-Pan

Redito e não dito, da B.D., no tradicional site da Casa: www.tribuneiros.com

22 comentários:

Anônimo disse...

Andreazza, depois desse carinho te perdôo por qualquer indelicadeza, outrora e futura. (rs)

As meninas do futebol jogam com uma vontade e uma alegria que faltam na maioria dos jogadores masculinos. As suas observações estão perfeitas. Eu bem queria a Marta jogando no meu time. E sonhemos todos!

Obrigada!

bruna disse...

E o beijoqueiro voltou! Nem Maureen nem Lucimara, preferiu invadir o futebol feminino.

Ivan disse...

A observação, ótima, sobre o basquete masculino, é perfeita também para o feminino. A geração campeã mundial, prata olímpica apenas para as feras da WNBA, foi-se, definitivamente, com a despedida de Janeth e por falta de competência (e de interesse também?) não houve um trabalho de renovação decente.

C.A. disse...

Curioso, Ivan: acabei de publicar este complemente, bem d´acordo contigo, que havia pulado na hora d´aqui colar as notas.

Anônimo disse...

Andreazza, por que no vôlei é diferente? Os dirigentes são mais sérios e competentes? Estou perguntando pra tentar entender melhor o mecanismo, pois ignoro realmente. Me interessei.

C.A. disse...

Olga, talvez sejam, sim, um pouco mais competentes os dirigentes e atualizados os técnicos. O dinheiro, ademais, sobra... São muitos patrocínios. Decorrência - e não nos podemos esquecer jamais - de duas medalhas d´ouro olímpico num intervalo de doze anos. Conquistas - nunca logradas pelo basquete - que, sozinhas, são já um baita estímulo para que jovens pratiquem vôlei. Porém, qualquer descuido e um abraço...

Anônimo disse...

Dá pra entender. Se a CBV não ficar atenta pode ser mordida pela mosca azul da mesma maneira que a CBF vem sendo mordida. Porque não me parece ser problema de dinheiro o problema da CBF, não?

Anônimo disse...

"O ator global Cauê Reymond" é simplesmente genial!

C.A. disse...

Aí, Olga, você profissionalizou a questão... O problema da CBF, se me faço entender, não é o dinheiro não. É o muito dinheiro.

(Enquanto isso, os clubes, os formadores d´atletas, mendigam esmolas federais, embora há quase vinte anos mantenham, no voto, o Sr. Ricardo Teixeira à frente do futebol nacional).

Anônimo disse...

Acho que o vôlei tem um santo forte. D'outra forma, nunca poderia ter sobrevivido tanto tempo sob administração do sr.Marcia Peltier.

Anônimo disse...

Andreazza, você acha que me engana com essa foto de atletas de shortinho, né? Velho safado. Em tempo: que saúde da Maureen Caldo Maggi! E que imbecil o seu marido, fracassado piloto de fórmula 1, que tentou afastá-la do esporte, talvez com inveja de seus melhores resultados.

Anônimo disse...

Sem querer minimizar o absurdo e lamentável caos nos aeroportos...mas essa primeira foto bem mostra que o "povo que não anda de avião" sofre com o descaso nos transportes há tempos e pouco é feito...

C.A. disse...

E mais não diremos, Danfern.

Anônimo disse...

brilhante trabalho, rapaz!

Anônimo disse...

Foca, o Andreazza tá fazendo uma frente legal ao seu blogue fotos. Por sinal, muito boas as fotos...

Andreazza, é difícil de entender como que com tantos títulos o futebol não consegue se profissionalizar de uma maneira decente, investindo na base, fortalecendo os clubes, para que os nossos bons jogadores continuem por aqui. Falta tudo a esses caras, né?

Anônimo disse...

Hum, não consiga...

C.A. disse...

Olga, a CBF, entidade privada (embora também receba recursos públicos) sem fins lucrativos, segue uma linha absurda de gestão esportiva, centralizadora em excesso, que se resume mais ou menos assim: cheia de patrocinadores, recebendo uma fortuna de dinheiro, acumula capital em seus cofres em vez de reinvesti-lo nos clubes formadores d´atletas e na estrutura profissional do esporte. É como se a CBF fosse um banco. É isso. Em qualquer lugar do mundo, peguemos a Inglarerra como exemplo, a confederação apenas cuida da seleção, além de manter o quadro d´arbitragem etc.. As competições nacionais mais importantes (o Brasileirão seria o equivalente), porém, são administrados e organizados por ligas de clubes, altamente profissionais, cabendo à confederação o direito de organizar um torneio eliminatório, amplo e nacional, no caso a F.A. Cup, que aqui seria a Copa do Brasil.

O caminho é esse.

Anônimo disse...

Obrigada, Andreazza, pelo saco em explicar. Mas por que os presidentes dos clubes votam pela continuição de presidente tão suspeito como esse tal de Ricardo Teixeira? Serão todos comprometidos? Se não quiser responder tudo bem, acho que monopolizei o assunto... O negócio é confuso mesmo ou eu envelheci e emburreci de vez.

C.A. disse...

Olga, é aquela coisa de ciclo vicioso, alimentado pela incompetência dos dirigentes dos clubes: votam no Ricardo Teixeira porque, acomodados no sem-força [e sem-interesse] de se mobilizar para uma altenativa que valorize e fortaleça as entidades formadoras que administram, ao menos com ele têm asseguradas umas $migalhas$ para mendigar... Algo como um Bolsa-Família, sabe? O Bolsa-Clube...

Anônimo disse...

Vou mudar de assunto. Depois dos atletas, o que mais adoro nessas competições é dar de cara com países dos quais nunca ouvi falar. Nesse Pan, São Cristóvão e Névis. Adorei saber que existe. Dei uma googlada nele e achei bem simpático.

Ivan disse...

Curioso mesmo, Andreazza, mas não é coincidência. O trabalho de porco feito por inúmeras confederações desportivas no Brasil é público e notório.

Sobre a seleção de Ilhas Virgens, é uma pena que o craque Tim Duncan tenha se naturalizado norte-americano... Mas ele viria ao Pan?

C.A. disse...

Viria, Ivan, com o Michael Phelps...