Notas pan-americanas IV

Um pouco de verdade

Diogo Silva, o primeiro ouro do Brasil, recebe apenas R$600 da Confederação Brasileira de Taekwondo – ainda assim sob freqüentes atrasos. E mais não digo.

Ou digo, sim: esta é a realidade do esporte olímpico neste país. O Pan, maravilhoso, com lucros e ganhos políticos para um monte de gente, vai acabar – mas a situação dos atletas continuará a mesma.

Encanto

Jade Barbosa é o melhor do Brasil neste Pan.

Vaia pedagógica

Se de fato orquestrada pelo assistencialismo do alcaide César "O Generoso" Maia, a vaia contra o presidente Lula terá sido a maior obra pública nesses quase 72 anos de gestão do prefeito. Ou seja: a hora dele também chegará.

Jornalismo pan-americano

Com tiragem diária de oito mil exemplares e em três idiomas (português, inglês e espanhol), circula já entre os atletas o Jornal da Vila.

Boa iniciativa, a despeito d´obscura, daí porque deixo as perguntas para as quais não logrei achar resposta, embora mui tenha tentado: houve processo de seleção para escolher os profissionais responsáveis pela publicação; em caso positivo, onde se divulgou o edital, e com que antecedência; ademais, qual é a procedência dos recursos que sustentam o informativo, distribuído gratuitamente?

Obrigado. Thank You. Gracias.

Turismo?

A taxa d´ocupação dos hotéis é hoje de 67%, 11% a mais que a média dos últimos três anos para o período. Não é pouco. Mas basta para que já se procure outro argumento de justificar os bilhões gastos com este Pan.

Propaganda do regime

Um atleta da seleção cubana de handball fugiu da Vila e já é considerado o primeiro desertor. A questão agora é saber se até o final dos jogos Cuba terá mais medalhas ou fugitivos no Rio.

Aposto na primeira opção.

Cambistas d´ocasião

As provas de ginástica artística na bela e enorme arena olímpica do autódromo servem na medida para exemplificar o equívoco grosseiro que foi e é o sistema de venda d´ingressos deste Pan: embora anunciados como vendidos os 15 mil lugares (concorridíssimos), não se chegou ainda sequer à metade de sua ocupação.

A questão óbvia é: onde estão esses ingressos? E que sorte de cambista trabalha tão pouco ou com tanta margem de lucro a ponto de morrer satisfeito com centenas d´entradas na mão?

Ocorre-me se não seriam cambistas d´ocasião, criados pelo assistencialismo da prefeitura, que distribui milhares d´ingressos entre as comunidades carentes do município, as quais não culpo.

(Se estivesse duro, sem trabalho e com filhos pra criar, e me dessem, de graça, uns ingressos pan-americanos, não tenha dúvida, eu os venderia na hora - e se um ou outro afinal sobrasse, paciência, para o lixo e aquele abraço).

Provincianismo de hábito

Tudo bem: os jornais brasileiros sempre procuram – e raramente encontram – alguma repercussão de feitos e eventos tupiniquins em periódicos internacionais, sobretudo norte-americanos. Mas não se devem ofender se os yankees sequer tomam conhecimento do nosso Pan. Eles nunca o fazem. Nem quando o organizam.

Não é descaso com o Brasil. Apenas ciência de que o Pan-Americano é competição esportiva de segunda-classe.

Imagem poética

Este acima é Carlos Drummond de Andrade, o poeta, preso numa das celas construídas especialmente para os jogos do Rio de Janeiro.

Prioridade

Os bairros do Recreio e da Barra da Tijuca estão sem energia elétrica neste momento (12h37), mas, informa a Light, a Vila do Pan e as instalações esportivas não serão afetadas, embora, claro, seja o acréscimo de consumo demandado por elas que deixe sem luz a população da cidade.

Mas, como se sabe, a população da cidade não importa.

Blecaute

Ainda a respeito d´energia elétrica, a iluminação dos centros de competição, apesar de prioritária, já falhou algumas vezes e, em outras, tem funcionado aquém das necessidades. Jogos de beisebol noturnos já foram cancelados depois de a delegação cubana ameaçar boicotá-los. As disputas de ginástica artística têm atrasado diariamente em decorrência de problemas com os cabos da emissora de tevê anfitriã e muitas transmissões, inclusive nacionais, são feitas sem monitor, ou seja, no olho – e sem replay para os narradores e comentaristas.

Ontem, em Deodoro, durante a derrota da seleção brasileira feminina de hóquei na grama, o placar eletrônico se apagou. Faltavam cinco minutos para o fim da partida. Na sala d´imprensa, após o jogo, a entrevista-coletiva transcorreu sem ar-condicionado, num calor do Congo.

Tudo bem que se queira “viver esta energia”. Antes, porém, viva ela tem d´estar, não?

Pra não dizer que não falei das flores

A seleção brasileira de futebol venceu a Copa América na Venezuela – mas eu não retiro vírgula do que escrevi sobre o Sr. Dunga lá no site da Casa. Ao contrário, reafirmo tudo. E lamento... Afinal, teremos d´aturar a grosseria, a estupidez e a falta de talento por um pouco mais de tempo que o esperado.

Se você não leu, está ainda valendo - Se Dunga está "com nós", quem estará contra: http://www.tribuneiros.com/