Selecionei 24 filmes – homenagem clara ao Foca – de língua espanhola, todos ótimos para o fim de semana, e comentei-os brevemente. Ah, se o cinema brasileiro nos desse tantas alegrias...
El mismo amor, la misma lluvia (ARG, 1999)/ El hijo de la novia (ARG, 2001)/ Luna de Avellaneda (ARG, 2004) – As três obras-primas [não-seqüenciais] do diretor Juan José Campanella, com os gênios do humor portenho Ricardo Darín e Eduardo Blanco fazendo você rir, chorar, rever, decorar e tudo mais. Meus favoritos.
El aura (ARG/FRA/ESP, 2005) – O mesmo diretor de Nueve reinas, Fabián Belinski, em mais um roteiro policial extraordinário, com Ricardo Darín em cenas memoráveis – e sérias - de ataque epilético.
Samy y yo (ARG, 2002) – Esta sim uma comédia mesmo, bem escrachada, mas não menos hilariante, porque um reality show com um Ricardo Darín desengonçado dá de mil a zero em qualquer BBB, e a musa colombiana Angie Cepeda deixa qualquer Siri no chinelo.
Iluminados por el fuego (ARG/ESP, 2005) – Um raro filme de guerra bom, bonito, humano e estarrecedor, que, ao terminar, tem o porém de encher você de vontade de saber tudo sobre a Guerra das Malvinas. Gastón Pauls, de Nueve reinas, impecável como o ex-combatente tentando apagar de uma vez seus fantasmas.
No sos vos, soy yo (ARG, 2004) – Diogo Peretti é uma espécie de Pedro Cardoso argentino. Só de olhar, já dá vontade de rir, e, na pele de um marido abandonado em crise, é gargalhada certa, não sem fortes emoções. Este filme serve para nós homens quase tanto quanto um texto da Bruna para as moças. Ah, o amor...
Tiempo de valientes (ARG, 2005) – Agora como um policial, Diogo Peretti e seu humor desesperado trazem a esta comédia cenas inesquecíveis, como a da revelação de uma infidelidade na mesa do jantar, com armas e tudo.
Pantaleón y las visitadoras (Peru, 1999) – A história, baseada na obra de Mario Vargas Llosa, já é engraçada e afrodisíaca (um militar todo metódico recebe a função de organizar uma equipe de prostitutas, entre elas a fatal Angie Cepeda, para satisfazer as tropas instaladas na selva amazônica). O filme, também.
Te doy mis ojos (ESP, 2003) – Uma pérola dramática sobre a violência doméstica, com grandes atuações – e muita porrada - de Luís Tosar e Laia Marull. Na terapia de grupo para maridos agressivos, há uma cena antológica de humor em que dois deles [Tosar e outro] simulam um casal se encontrando em casa à noite.
Los lunes al sol (ESP, 2002) – Só por ter Luís Tosar e Javier Bardem, já merece ser visto. Mas é um filme de uma simplicidade tão precisa sobre o desemprego – masculino, diga-se – que dá vontade de se meter nas conversas de bar da rapaziada. Da recessão, tiram-se humor e lirismo de sobra.
Mar adentro (ESP, 2004) – Interpretando a história verídica de Ramón Sampedro, que, após um acidente banal, fica tetraplégico, passa 28 anos preso a uma cama e luta pelo direito de morrer, Javier Bardem prova – sem exagero - que é um dos melhores atores de todos os tempos.
Amores perros (MEX, 2000) – A essa altura já clássico, o filme que consagrou o roteirista Guillermo Arriaga, o diretor Alejandro Iñárritu e o ator Gael García Bernal (mais tarde juntos em Babel) mostra a mudança na vida de três pessoas a partir de um acidente de carro. Briga de cachorro, modelo aleijada, matador de aluguel e uma porção de insanidades bem costuradas fazem dele uma aula a qualquer roteirista brasileiro.
Y tu mamá también (MEX, 2001) – Gael García e Diego Luna se aventuram pelas estradas do México com uma mulher mais velha - mais experiente, registro - que lhes apresenta um bocado de coisa... Belo, divertido e verdadeiro retrato da juventude, com todos os seus desejos.
Seres queridos (ESP/ING/POR/ARG, 2004) – Uma comédia familiar banal - espécie espanhola de Entrando numa fria - mas engraçada que só, dados os talentos da magistral Norma Aleandro, de O filho da noiva, e do boa-praça Guillermo Toledo, que trazem a um jantar de família discussões e situações fantásticas desde judeus versus palestinos até o assassinato de um pedestre.
Cleopatra (ARG, 2003) – Nada épico, não. Norma Aleandro faz uma professora aposentada que dá uma de Thelma e Louise com uma jovem e vulnerável celebridade (Natalia Oreiro), viajando para fugir da rotina. Norma Aleandro vale o filme. Há uma cena dela sozinha, chorando e rindo ao volante, que é só pra quem pode.
Valentin (ARG, 2004) – O gênio! Não há leitora que não se apaixone pelo pequeno Valentin, um menino inteligente e observador que mora com a avó, sonha em ser astronauta e em conhecer sua mãe, e acaba aprendendo piano com o vizinho louco. Uma obra-prima de leveza, humor e sensibilidade.
El otro lado de la cama (ESP, 2002) – Uma comédia musical e, por assim dizer, o único musical tolerável, pois que todo bem-humorado e sexuado, com dois casais em crise, vividos por Paz Vega, Guillermo Toledo, Natalia Verbeke e Ernesto Alterio, um quarteto da pesada em termos de entretenimento. A continuação está a caminho.
Tinta roja (PER, 2000) – Este filme devia passar nas faculdades de jornalismo. Jovem repórter vai parar na editoria policial de um jornal sensacionalista e tem que lidar com o submundo peruano. É uma delícia. Rende uma porção de situações embaraçosas, hilariantes e violentas.
Días de fútbol (ESP, 2003) – É incrível que essa comédia tenha passado batida por aqui. Um bando de homens fracassados recuperam sua alegria formando um time de pelada – de futebol soçaite mesmo – chamado – imagine você - Brasil. Eu estava em Madri quando estreou, e todos os gringos vinham me perguntar: “Já viu Días de fútbol?”. Acabei vendo. O Brasil nunca teve um time tão ruim. Mas o filme é engraçado demais.
Lucía y el sexo (ESP, 2000) – Eu me recuso a explicar este filme, a que já assisti algumas dezenas de vezes. E não porque é com a Paz Vega, ou porque é quase pornográfico, como dirá a assanhada leitora, embora também. Mas porque é brilhante, lindo, louco, idílico, insular, altamente literário, e tem um sexo no mar em noite de lua cheia que deixa a Cicarelli a ver navios. Uma cousa!
Nicotina (MEX/ARG, 2003) – Diego Luna, de Y tu mamá también, não devia nunca ter ido para Hollywood. Seus filmes mexicanos são muito melhores, e ele é muito melhor em espanhol. Aqui, Diego é um hacker que, além de espionar a vizinha nua, descobre dados sobre contas suíças e se envolve com a máfia russa. Há muito do que rir.
María llena eres de gracia (COL/EUA, 2004) – Uma obra-prima colombiana sobre o tráfico internacional de drogas a partir das mulheres encarregadas de transportar cocaína no estômago para Nova York – as “mulas” -, engolindo umas setenta cápsulas como aquela do cartaz, do tamanho de uvas gigantes. Suspense da mais alta qualidade.