O brasileiro Ivan Silva [à esquerda], sétimo na prova do decatlon, assim explicou a sua péssima colocação:
“Um dos motivos do meu resultado ruim foi essa torcida [que vaiava]. Passei praticamente a competição toda tentando justificar para os outros atletas a postura dos brasileiros. Eles estavam impressionados, ficavam me perguntando o que estava acontecendo”.
Pensei em algumas respostas ao Ivan – todas sempre a frisar qu´ele foi sétimo numa competição de nível técnico baixíssimo –, mas fiquei com a seguinte, elegante, embora franca: o motivo do seu resultado ruim, Ivan, é que você é um atleta ruim e que, sendo a vida assim mesmo, os menos ruins chegaram à sua frente.
Ele, porém, disse mais:
“Todo mundo falou tanto da organização e da segurança, mas está tudo ótimo. A única decepção é essa torcida. O Brasil nunca mais vai conseguir trazer uma grande competição por causa disso. A mentalidade do povo brasileiro tem que mudar muito para que seja realizada uma Olimpíada aqui”.
Infelizmente, Ivan, a despeito de seu puxa-saquismo para com as autoridades [que te patrocinam?], não será jamais a torcida brasileira o empecilho para que recebamos, por exemplo, uma Olimpíada – e antes fosse. São outras as mentalidades a serem mudadas – e isto bem longe das arquibancadas.
Já escrevi – Notas Pan-Americanas VI – a respeito do público vaiar atletas estrangeiros e até mesmo nacionais. Não acho bonito. Mas tampouco me incomodo ou preocupo. Antes, lembrando que o caráter do torcedor brasileiro é forjado em estádios de futebol, onde vaia é costume, insisto na questão: se não temos ainda sequer honesta consciência cidadã para investir na formação de jovens atletas olímpicos, o que dizer da formação de público torcedor para esportes outros que não o velho bretão?
(Do decatleta Ivan Silva, porque já lhe dei fama demais aqui, despeço-me – e sugiro ao leitor que faça o mesmo: como não há chance d´ele ir a Pequim, é mui provável que jamais ouçamos o seu nome de novo).
Ponto de vista diferente
Carlos Chinin [abaixo], o outro brasileiro no decatlon, levou a medalha de bronze após vencer, de maneira espetacular, a prova final dos 1500m, antes da qual era quinto colocado.
Ele achou a torcida ótima.
Sem canaleta
O Brasil conquistou a medalha de prata na categoria duplas do boliche pan-americano. Parabéns, então, para Fabio Rezende [foto abaixo] e Rodrigo Hermes, mas eu, acompanhando a disputa, jamais pensei em outra coisa senão em que já fizera centenas de strikes memoráveis [sem canaleta] nas mesmas pistas onde ora se desenrolam as competições de boliche destes jogos Pan-Americanos, lá no velho Barra Bowling do popular Barra Shopping.
Emocionei-me, óbvio.
Cambista solidário
Estão esgotados já os 88 mil ingressos oferecidos pela campanha Pan Solidário, que trocava entradas dos jogos por alimentos não-perecíveis.
O balanço oficial da campanha, com os números dos mantimentos arrecadados, ainda não foi fechado – mas os cambistas já calcularam os preços pelos quais venderão os ingressos adquiridos.
(A conta foi simples: bastou descontar o valor gasto com o quilo de feijão).
Grandes figuras do Pan – a série
Antonio Carlos Barbosa [acima], técnico de basquete e boa-praça demais, que ontem se despediu da seleção brasileira feminina, com a qual ganhou um bronze olímpico.
Turismo pan-americano
A Vila não me cansa de surpreender – e não é que possui até uma agência de viagens, leitor.
Sabendo que se trata d´empresa privada contratada pelos organizadores, serei muito ranzinza acaso pergunte se houve alguma sorte de licitação pública para a escolha?
(Registro que, a este altura, vale até cara e coroa).
Amor voluntário
O que se vê na foto ao lado é, segundo a delegação jamaicana, o “montinho do amor”. Como cada um ama como quiser, peço atenção a um detalhe da foto. E das duas uma, então: ou tem atleta usando uniforme de voluntário do Co-Rio, aquele branco com ombros e mangas coloridos, ou o voluntariado nunca terá sido tão amoroso.
De qualquer maneira, como se vê no plano geral da boate pan-americana [abaixo], não são poucos os que procuram um amor – um montinho d´ele que seja – no horário de trabalho.
Boa sorte!
Dois pesos e duas medidas II
A secretaria municipal de Fazenda fechou ontem o posto Texaco [abaixo] em frente à Vila do Pan. O estabelecimento, como todos os outros da cidade, vendia bebidas alcoólicas – mas deu o azar de fazê-lo para atletas estrangeiros.
Já discorri longamente a este propósito ontem – e assim deixo apenas um alerta aos demais postos de gasolina do Rio de Janeiro: por favor, até o final dos jogos, antes de vender cerveja etc., pergunte ao consumidor se ele é atleta pan-americano. Em caso positivo, não faça negócio. O estabelecimento pode ser interditado. Se for um cidadão comum, que paga impostos e habita este município, fique tranqüilo e venda à vontade – até mesmo armas de fogo, se desejar. Nada acontecerá.
(Nota d´esclarecimento: a Sadia não patrocina os tribuneiros).
Mandinga roqueira III
Abaixo [literalmente], a Cidade do Rock, hoje, logradouro do softbol pan-americano – mais uma vez adiado...
(Ainda está em tempo – repito – de transferir esses jogos para o Terreirão do Samba, lá onde o corpo é fechado e a [re]batida, forte).
Disputa proporcional
O grande objetivo do Brasil nestes Jogos Pan-Americanos é superar Cuba no quadro de medalhas.
(A população de Cuba é quarenta vezes menor que a do Brasil).
“O negócio é amor, o resto é conversa fiada”...
Leia, no site da Casa – http://www.tribuneiros.com/ –, Vestida de pele.
11 comentários:
Como boa Foca - dotado da habilidade de fazer truques com bola - também sou fera no boliche.
Ah, Focca, conta outra...
Andreazza, sei que muito já foi dito, mas elogio nunca é demais: muito boa essa cobertura! O seu humor está afiadíssimo. P.S: Me tire uma dúvida: não foi prata que o basquete levou?
Nas Olimpíadas, Olga? Sim, mas em Atlanta, 1996, com Miguel Ângelo da Luz. Com o Barbosa, a seleção foi bronze em Sidney, 2000.
E aguarde para amanhã uma nota sobre a seleção feminina de futebol - que decide o ouro.
Obrigado pelo carinho de sempre, olímpica Olga.
Troquei as bolas, Andreazza. Estou aguardando.
Muito bom!
Ressalto que não sou o Silva!
C.A., olhando a cobertura do Pan em outro blog, muito bom também (averdadedopan2007.blogspot.com), li sobre mais uma ótima d'"O Generoso".
Fiscais da prefeitura, PMs e PFs estão combatendo fortemente a pirataria de produtos com as marcas do Pan e o que ele faz? Fornece em seu ex-blog o link para a compra das camisas com a frase "Eu vaiei o Lula no Pan", que também apresentam a logo e o mascote da competição. Quando é politicamente conveniente pode fazer propaganda de produto pirata? Que graça...
Ivan, é sabido, a hora do alcaide vai chegar...
Eu voto fácil no Andreazza para prefeito. Para presidente, eu penso duas vezes.
Miguel Ângelo da Luz, grande técnico rubro-negro.
Eu não aceitaria nenhum desses cargos, Focca, que reputo menores se comparados ao meu: escritor tribuneiro.
(Ademais: pagam pouco).
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