1.8.07

Paulo Francis

"Garoto fulo, eu temia as represálias da Autoridade e, pior, não sabia como combatê-la. Dostoiévski respondeu. (...) O cerne revolucionário de Crime e castigo é que Raskolnikov racionaliza, e assim justifica, o assassinato de outra pessoa, em causa própria, pela capacidade maior que tem, teórica, de reorganizar a ordem das coisas, que ele destrói pelo ato consciente de um intelecto superior. Vale tudo, se você agüenta a parada, intelectualmente. (...) Na época, renasci da irritação impotente à subversão do que me impingiam. Bastava "apenas" pensar bem, em profundidade, que a prisão, que a cela se abriria...

De 14 aos 27 anos li tudo que conseguia pegar, média de seis horas por dia, investimento que me rende até hoje. Colégio de manhã, almoço, leitura até à noite, quando voltava à normalidade moleque da idade. (...) A experiência me mudou opiniões mil, mas duvido que qualquer universidade me desse base semelhante".

[Paulo Francis; O afeto que se encerra, memórias, 1980].

4 comentários:

Anônimo disse...

Eu fiz questão de ler Crime e castigo depois de assistir um documentário sobre a vida do Francis. Muito bom, carlos!

C.A. disse...

Marcão, e para tanto terá servido a existência do documentário no Brasil!

Anônimo disse...

Ótimo, ótimo esse trecho transcrito !!! É sempre bacana lembrar que o amadurecimento, conhecimento, apuro intelectual mesmo, são obtidos pela leitura, como ela é fundamental na juventude, na formação ...

Livro não é só pra "estudo", e tem coisas que a escola e a universidade não ensinam, até mesmo porque não lhes cabe isso...

Pena que essa leitura alucinada mencionada no trecho só seja possível, penso eu, quando se é muito jovem, escritor ou bon vivant... Lia muito, muito mais "literatura" quando jovem e sem obrigações além de ir pra escola ... (O trabalho burocrata e os estudos técnicos roubam tempo precioso ! rs.)

Excetuando o caso dos escritores (porque esse é o seu trabalho, afinal), será que o ócio é o melhor amigo da leitura?

Ah, pergunta importante - há modo de conseguir esse documentário mencionado pelo Marcos?

C.A. disse...

Danfern, escritor hoje, eis a verdade, escreve muito mais do que lê. E não porque lhe falte tempo...

(Tempo se cria).