1.8.07

O que Paulo Francis tem a ver com o caos aéreo?

Em 1962, já colunista à Última Hora, Paulo Francis perdeu – tragicamente – o irmão mais velho, Fred, “assassinado pela Cruzeiro do Sul”, então importante companhia aérea nacional. No livro de memórias O afeto que se encerra, de 1980, ele relata a barbárie – e não é por acaso qu´a reproduzo aqui, em trechos:

"A Cruzeiro do Sul continua viva, absorvida pela Varig. Nada sofreu. O laudo pericial começou em nível de tenente da FAB, Montenegro Fernandes, me lembro. O tenente descobriu negligência criminosa na queda do Convair da Cruzeiro. (...) Parecia incontrovertível. O tenente Fernandes é ou era o expert da FAB.

O Globo publicou entrevista com um dos raros sobreviventes, húngaro, ex-piloto na Segunda Guerra (...). O homem disse que na decolagem viu um dos motores pegar fogo e avisou à aeromoça. Ela, exibindo o charme e veneno da mulher brasileira, emitiu os ruídos apropriados a débeis que voam inocentes. O húngaro insistiu na seriedade, se identificando piloto profissional. Nada. No diário do comandante havia frases como “se não consertarem esses flaps um dia vai haver uma desgraça”.

Inútil. O laudo subiu a brigadeiro e “renasceu” falha humana, a eterna desculpa das companhias (nem sempre, claro, falsa)".

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Nem sempre falsa, Francis, e raramente, eu acrescentaria, isolada, a despeito de ser mais fácil – bem mais fácil – transformá-la, de possibilidade e parte, em fato e todo, a verdade absoluta, logo única, veredicto afinal, pois que mortos, ora, vão os pilotos, claro!, os que falharam, tanto os de 1962 quanto os de 2007.

Alguma novidade, leitor? Talvez apenas que não seja coisa assim tão recente, desses tempos de Anac etc., a onipotência das companhias aéreas no Brasil.

[Paulo Francis; O afeto que se encerra, memórias, Editora Francis, São Paulo: 2007].

2 comentários:

Anônimo disse...

Boa a "série" sobre o Paulo Francis...Aliás, sempre atual, como se vê...ou será que é a História (no caso, de descaso) que sempre se repete? rs.
Vou procurar este livro!

C.A. disse...

Francis é sempre atual, Danfern, ajudado, claro, pela história do Brasil, que, sim, se repete...

(O livro, bem-editado, eu o tenho visto em todas as livrarias).