3.8.07

Império Serrano 2008

Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim

Sinopse do enredo:

No ano em que comemora 60 anos de existência, o Império Serrano leva para a avenida a trajetória de Carmem Miranda, artista que tanto nos encantou. Nestes anos de glórias, de lutas e sobretudo de muita resistência, o Império sempre se manteve ligado aos temas que contam a história do Brasil.

A própria história da nossa verde e branco, nascida em pleno contexto da redemocratização do país, é um grito de liberdade, palavra imperiosa na sua conta, de escola de samba sem “dono”, aguerrida e elegante, sabedora do seu papel na história do samba e consciente de seu lugar e posição na cultura do nosso país.

E taí Carmem Miranda, que fez tudo para que gostassem dela e conseguiu. Caiu no gosto popular quando o rádio ainda engatinhava... Ela acertou em cheio. Carmem interpretou canções que pareciam complementar uma necessidade, já que preenchiam um espaço lúdico e vital que o povo brasileiro trazia consigo e sua arte trouxe à superfície.

Com seu apelo sensual, sua espontaneidade adquirida na vivência das ruas do centro do Rio de Janeiro, a voz de Carmem parecia portar a sua própria imagem, um fenômeno explosivo que “bombou” nas ondas do rádio e a tornou a primeira cantora campeã de vendas de discos no Brasil.

Aos vinte anos já despontava sua estrela. Carmem firmou um repertório que se tornaria referência nacional. Foram canções que se fixaram no imaginário do brasileiro e são recorrentes nos nossos motivos de festa, de tristezas, de deboche e de exaltação, canções sem as quais o Brasil teria incompleta sua identidade.

A figura da baiana definitivamente associada à imagem de um Brasil ideal para uns ou pouco provável para outros, tornou-se uma marca. Marca de exportação em que Carmem imprime uma visão da Bahia, com o auxílio luxuoso de Dorival Caymmi, e a formatação carioca que ela soube muito bem desenvolver, ganhando o mundo.

Mundo que se temperou como ela descreve com suas próprias palavras: “Vou botar tempero no gosto e no ‘gôto’ daquela boa gente (...) Nos meus números não vai faltar nada: canela, pimenta, dendê, cominho (...).Vou levando vatapá, caruru, mungunzá, balangandãs, acarajé (...)”.

E não contente com isso, Carmem cutuca: “E vão comigo seis baianas repenicadas, isto é, vou levar seis fantasias representando a gente do Bonfim... Mandei caprichar nesses trajes da nossa terra. Tenho feito tudo para que a música e a baiana sejam uma bomba por aquelas bandas.”

Carmem salta para outra esfera, o cinema americano, o mercado mundial, a política da boa vizinhança, dólares, dores, fama, solidão. Pagou um preço, mas não arredou o pé, seguiu em frente com um profissionalismo inegável sacolejando sempre nossos balangandãs e legitimando o “ samba” como música nacional, recebendo o merecido título de Embaixatriz do Samba.

E, em matéria de samba, o Império Serrano é soberano. Sempre irradiando canções, verdadeiras pérolas, patrimônio nosso que atravessa o tempo e se perpetua assim como as canções que Carmem Miranda eternizou. Daí o elo inevitável de duas forças que se complementam no cenário artístico nacional.

Império Serrano e Carmem Miranda, mais uma vez unidos, caminhando contra o vento dos modismos, a favor da beleza e das coisas genuínas, escrevendo mais uma página da história, elevando a alegria que alegoriza a vida e personagens decorrentes. Acenando para a estrela que ela sempre foi e será, pleiteando agora que seu brilho possa refletir mais uma vez na coroa de nossa bandeira, que tanto anseia por brilhar novamente, voltando ao lugar merecido no podium do mundo chamado samba.

(Carnavalescos: Marcia Lávia e Renato Lage).

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Agora é minha vez...

O Império Serrano já cantou Carmem Miranda num seu desfile, o de 1972, e não à toa, leitor, pois que o venceu. Foi campeão. Ganhou o carnaval - repito, e tampouco à toa: esta é, a meu ver, informação fundamental, peça-chave [revolucionária] de qu´a escola precisa ter exata noção e explorar, mexendo nos brios do imperiano, chamando-o próximo, lembrando-o e aos demais, àqueles que duvidam, que fazem pouco, qual é a vocação inequívoca do Império Serrano: vencer.

Gosto da reedição deste enredo. Gosto da nova leitura que a escola fará da grande personagem e, sobretudo, da decisão de não levar o samba original pr´avenida. Valorizemos, sim, a nossa ala de compositores. (E o Sr. Arlindo Cruz, cadê?, apresentará um samba-enredo ao menos decente para 2008 - ou, estrela que é, não perderá tempo compondo pro Grupo de Acesso, antes preocupado que sempre está com os sambas da Grande Rio, da Portela, da Vila etc.)? Acho qu´esta sinopse, sem frescuras, reúne as pistas, as sugestões, as sementes criativas, livres, para o nascimento dum belo samba – isto que é, sem favor, a tradição maior da escola: os sambas imortais.

Vou deixar bem claro aqui, duma vez, como encaro a escolha deste enredo, asseverando, porém, que não o compreendo simplesmente como tema interessante, rico, do qual, ademais, a escola é íntima. Não. O tema é interessante, claro, mas quanto mais será se o Império desenvolvê-lo valorizando intimidade outra, quase esquecida, a intimidade que ora interessa – e que Carmem Miranda, aí sim, enseja: a intimidade das vitórias, dos títulos, de Madureira em festa outra vez, a intimidade que o Império Serrano possui naturalmente, nove vezes campeão que é, com as glórias do carnaval. O resto é conversa fiada e coisa pouca.

Carmem Miranda foi morar nos EUA. Sofreu, sim. Muito. Mas venceu. Sempre soube qu´aquele não era seu mundo. Insistiu, porém. Dedicou-se a ele. Respeitou-o. Enriqueceu-o. Um dia, com força e presença, voltou ao Brasil, ao seu lugar, aos seus, onde sempre teve lugar – e sem favor: conquistou-o, construiu-o com talento e trabalho.

E o Império Serrano com isso?

O Império, de sua parte - e sem ser vítima, senão de péssimos dirigentes -, já sofreu muito também, como sofreram [e sofrem] os seus. Basta! Não terá chegado já a hora de vencer? Respeitando o Grupo de Acesso, dedicando-se a ele com a força máxima, não será tempo de voltar ao Especial, o lugar do Império, e lá brilhar, de vez, pra sempre, ocupando, “consciente de seu papel na história do samba e de sua posição na cultura do nosso país”, o seu espaço e o fazendo – se "donos", felizmente, não temos – com o que tem de melhor e próprio, original, qual seja, a garra, a liberdade, a resistência, a tradição de sessenta anos d´avenida, não será já hora?

Eu acho que sim. E acredito.

8 comentários:

Anônimo disse...

Eu também. Aliás, vou linkar o blog Tribuneiros lá no Pentimento...

C.A. disse...

Falou, Marcelo! Avante, imperianos!

Anônimo disse...

Em princípio gostei também.
Espero que o desenvolvimento seja tão eficaz quanto a sinopse e que mantenha as tradições do Império.

Anônimo disse...

Achei legal. Mas a comemoração dos 60 anos já não foi em 2007?

C.A. disse...

Cris, qu´assim seja!

C.A. disse...

Focca, factualmente, o Império completou sessenta anos depois do carnaval de 2007, em 23 de março. Ou seja: vigora ainda a cousa... E ainda no próximo reinado de Momo vigorará, com a festa adicional de que no carnaval de 2008 a escola não só comemorará sessenta anos desde o seu primeiro desfile, em 1948, como comemorará os sessenta anos de seu primeiro título, também em 1948 [quem pode, pode] sob Antonio Castro Alves, cuja poesia, diria o samba de Comprido, "o mundo jamais esqueceu"...

Ah, moleque!

Anônimo disse...

Muito bom! Comemoração merecida!

Eugenia disse...

eu tb acredito!!!