13.8.07

Morro da Providência

O texto de João Paulo Duarte, Conto da Providência, publicado no site da Casa, enseja alguns comentários sobre o Morro da Favela [acima, foto dos anos de 1960], nome d´origem, ainda do século XIX, para o mais popularmente conhecido Morro da Providência, talvez a primeira favela do Rio de Janeiro. (Oficialmente: é).

Do nome de batismo, porém, ora importa que se fez alcunha geral para comunidades pobres, talvez pela localização central do morro no Rio de Janeiro, e que hoje favela é um substantivo - comum, muito comum - a que vamos longamente habituados...

Como bem situa a prosa do J.P., o primeiro núcleo habitante da Providência tem origem nos ex-combatentes de Canudos, enganados ou desencorajados pela burocracia [safadeza, má-fé etc.] do poder público, que prometera – para descumprir em seguida, claro – alojar na capital os cerca de dez mil soldados republicanos desmobilizados pelo fim da guerra. Eram então fins do século XIX... (Algumas tradições, no que se refere aos governantes, têm força de permanência a toda prova, não é mesmo)?














Sem solução oficial, os soldados fizeram abrigo nas encostas do morro, que logo nomearam Favela, mesmo nome da pedreira onde acamparam na região conflagrada de Canudos, e lá ficaram, como ainda hoje, vê-se, entre esquecidos e negligenciados.

Embora possua comunidade nordestina crescente, a população da Providência é ainda em grande parte negra, descendente dos primeiros moradores da favela.

É sito em área muito pouco conhecida dos cariocas [ou será um ponto-cego?], aquele vasto espaço, progressiva e lamentavelmente degradado pelo descaso da municipalidade, atrás da Central do Brasil, zona essencialmente portuária, a “Pequena África de Oxum”, outrora sambista e boêmia [embora haja um movimento, tímido ainda, para revitalizá-la como tal], qu´engloba parte do Caju, passa pelo Santo Cristo, pela Saúde e pela Gamboa, até tocar o Centro. Pela localização estratégica, mui perto da Rodoviária e da Central, é ponto disputadíssimo pelo tráfico de drogas.

A Providência, no entanto, porque ainda há quem resista sem armas, é também berço da valente Agremiação Recreativista Escola de Samba Vizinha Faladeira, campeã do carnaval de 1937, agremiação encolhida, é verdade, hoje na terceira divisão, mas de pé, lutando, desfilando, d´estandarte altivo e orgulhoso, apesar da lógica [bandida] das superescolas de samba S/A, que agora pontificam, curiosamente, ali bem próximas, poderosas, na monumental e inatingível Cidade do Samba.

Leia o Conto da Providência, de João Paulo Duarte, no fabuloso site da Casa.

3 comentários:

Anônimo disse...

C.A, não é "A pequena África de Obá", não?

C.A. disse...

Sim, no samba da Beija-Flor. O que cito é samba de roda d´antiga, Focca.

Anônimo disse...

Tá explicado. Vc nunca me decepciona.