11.9.07

Reflexões literárias

Marcel Proust passou quase que a vida toda na cama. Não foram poucos os dias seguidos, às vezes semanas inteiras, em que restou perfeitamente imóvel, deitado, lutando para respirar. Era asmático. Por causa disso, raramente saía de casa, e apenas depois da meia-noite, quando a poeira do dia já se assentara.

(Proust e James Joyce estiveram juntos uma vez). (Chegaram mesmo a dividir um táxi). (Trocaram mal uma palavra). (A literatura viajava, ali, inteira, de táxi - e não se reconhecia). (Ou será justamente o contrário)? (Para um esboço biográfico de M.P. - do que, advirto, não se trata esta peça -, é informação [questão] tentadora). (Ao grande escritor, afinal, o diálogo, a conversa, a troca de idéias, para muito além do vulgar, fosse com Joyce ou com joão, era, indistintamente, algo como um golpe contra a mente, o pensamento, a reflexão). (A Marcel Proust, para quem só a paixão e o sofrimento afiavam os poderes da observação, a única palavra a ter algum valor era a escrita).

Amizades, se as tinha, eram secundárias e casuais. Poderoso observador, da sociedade, da aristocracia, que freqüentava menos do que se crê, valia-se por fonte. Assim, nela, acumulava desafetos. Com sorte, desconfianças. Era escritor – incondicionalmente.

Bem cedo, por saúde e vocação, conformou-se à solidão – mas o pulmão precário e a invalidez progressiva, se lhe tiraram a vida aos 51 anos, também lhe ensejaram a desculpa definitiva para, vivendo, manter as gentes ao largo quando quisesse ler e escrever. E ele sempre queria, excessiva e obsessivamente.

Para a literatura universal, a asma de Marcel Proust foi mais importante que todas as linhas escritas no Brasil – até o advento de Felipe Moura Brasil*, o nosso redentor.

* curiosamente, autor da Crônica de enfermidade [15/08/2007], disponível no arquivo de textos do glorioso site desta Casa.

5 comentários:

Felipe Moura Brasil (Pim) disse...

Obrigado, Andreazza. É sempre uma honra ser mais importante do que uma asma.

Anônimo disse...

Sem querer me gabar, mas um dia peguei um taxi com o Pim.

C.A. disse...

Não seja modesto, J.P.: você é o James Joyce tribuneiro!

Anônimo disse...

Andreazza, meu caro, agradeço o elogio; mas minha capacidade se resume em escrever o lide do jornalista quando jovem. Nada mais que isso.

C.A. disse...

Boa, J.P.!