10.9.07

Escritores ao entardecer - a série [I]

Carta ao Dr. Edmundo de Magalhães, oftalmologista - maio de 1890:

"Sou o cadáver representante de um nome que teve alguma reputação gloriosa neste país [Portugal], durante quarenta anos de trabalho. Chamo-me Camilo Castelo Branco e estou cego. Ainda há quinze dias podia ver cingir-se a um dedo das minha mãos uma flama escarlate. Depois sobreveio uma forte oftalmia que me alastrou as córneas de tarjas sanguíneas. Há poucas horas ouvi ler, no Comércio do Porto, o nome de V. Exa.. Senti n´alma uma extraordinária vibração de esperança. Poderá V. Exa. salvar-me? Se eu pudesse, se uma quase paralisia me não tivesse acorrentado a uma cadeira, iria procurá-lo. Não posso. Mas poderá V. Exa. dizer-me o que pensar dessa irrupção sanguínea nos olhos em que não havia até agora uma gota de sangue? Digne-se V. Exa. perdoar à infelicidade estas perguntas feitas por um homem que não conhece".



Camilo Castelo Branco [1825-junho de 1890].

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